quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O Cristão: um ser responsável pela Comunidade Humana

Quando lemos a Bíblia, notamos que a fé do Povo de Israel está ligada a um Deus que se revela em sua história e caminhada. Um Deus que dialoga com seu povo, que se responsabiliza por ele através das alianças comunitárias.
Com o evento salvífico do Novo Testamento, Deus se revela plenamente em Jesus Cristo como fato histórico universal e decisivo para mostrar a humanidade a importância de se viver o AMOR. Jesus vive essa experiência do Amor com sua comunidade e talvez entre tantos milagres que Jesus fez, deixamos esquecido o milagre que o Homem de Nazaré fez ao reunir pessoas tão diversas em dons e personalidades. Alguns eram pescadores. Outros, artesãos e agricultores. Mateus era publicano, o que o fazia ser desprezado, uma vez que fazia parte daqueles que apoiavam o Império Romano. Simão fazia parte do movimento popular Zelote, um grupo com fama de violentos que almejavam a libertação da Palestina. Alguns tinham sido curados por Jesus. Havia também os mais abastardos: Joana e Suzana, Nicodemos, José de Arimatéia e outros.
O objetivo do chamado de Jesus é duplo: “Vem e Segue-me” (Mc 1, 17). A pessoa é chamada, primeiramente, para estar com Ele e formar Comunidade. Depois “Farei de vocês pescadores de homens” (Lc 5, 10). Ou seja, o seguidor de Jesus é convidado a fazer uma experiência comunitária e depois junto com a comunidade desenvolver um projeto comum em função do Reino.
Hoje, depois da célebre publicação de “Modernidade Líquida”, de Zygmunt Bauman, falamos muito das “relações líquidas”, ou seja, sem consistência. Ou talvez poderíamos dar um passo e dizer de relações em estado de “evaporação”, aquelas que se esvaem e se perdem, isoladamente, na atmosfera. Nesse sentido, até mesmo nossa fé corre o risco de ser algo intimista, cuja tentação é tornar Deus nossa imagem e semelhança. Desejamos transcender ao infinitamente Outro que é Deus, sem fazer um movimento de saída de nós mesmos em direção ao Rosto do Outro que convive conosco, pois o Deus que imaginamos estar “Lá”, na verdade está “aqui”, pois se revela também no rosto do outro, que traz em si a história de uma pessoa, de uma família de uma comunidade e de toda humanidade.
Quando falamos de Religião, é importante resgatarmos a etimologia dessa palavra que vem de “RE-LIGARE”, ou seja, é um movimento de “religamento” a Deus que só tem sentido no “religamento” que fazemos primeiro à comunidade. E a partir daí a toda humanidade, com a missão de construir uma comunidade universal de solidariedade e fraternidade.
Assim, o motor das relações humanas é a responsabilidade pelo Outro. Aqui, responsabilidade ao invés de amor, pois este caiu na banalidade do cotidiano, distanciando-se do compromisso com outro. A responsabilidade, por sua vez, nos leva a ter obrigação para com as pessoas, por suas vidas e por seus direitos. Pois obrigação (“OB-LIGATIO”) é o ato de estar ligado ao outro, formando comunidade. Deus nos criou para sermos pessoas de relação, pois é a partir dessa que nos formamos seres humanos.
Contudo, o seguimento de Jesus implica em sermos responsáveis por aqueles que Ele coloca em nosso caminho, como nos ensina o “Bom Samaritano”, aquele que curou as feridas e mostrou que somos responsáveis pelo outro não porque pertencemos ao mesmo povo, crença ou condição social, mas porque o outro é igual e necessário a nós. Ser cristão é ser responsável pela humanidade, contemplando nos rostos “benditos” ou “malditos” a presença incessante do Deus do verdadeiro Amor que deixa suas vestes divinas e esplendorosas para se vestir de carne humana, mostrando a dignidade do ser humano, fazendo comunidade na humanidade.

Texto:Oziel da Rocha,
Religioso da Congregação dos Filhos de Maria Imaculada – Pavonianos.

Belo Momento de Reflexão: Pe.Felix Xavier da Silveira

                                            
                                                

                                         

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